Escumalha (2019) - Douglas Germano

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Este disco solo de Douglas Germano é resultado de, aproximadamente, dois anos entre pesquisa, composição e o processo de gravação. Escumalha. Na definição do dicionário, sentido figurado: “Escória social; gente de baixa estirpe, ralé, escuma”.

Gente que socializa nos vagões de trem a caminho do trabalho, no terminal de ônibus, no butiquim de passagem, na fila do Sus, na igreja, na rua do bairro onde mora. Gente que vive nas periferias das grandes cidades.

O Brasileiro que é resultado de todas as transformações e violências históricas, pois as sentiu na carne. Ele está  excluído de todos os perfis capitalistas de validação social seja de beleza, de consumo ou sucesso, mas que, ao mesmo tempo, é quem produz o que temos de mais sofisticado em todos os sentidos. O Brasil real.

O Brasil oficial tem verdadeiro horror ao Brasil da brasilidade, nosso rancho dos fodidos, lanhados, exterminados, encantados, contra o vento, o rei, a lei, o altíssimo, a foice, o facão, o canhão e o arado. Douglas é arauto de Palmares, Caldeirão, Angicos, malês, cabanos, confederados, tupinambás. Cambono do povo de rua!

Há, no roteiro do disco, uma sequência de composições direcionadas à oposição: O brasil oficial. Esse que marginaliza, achaca, vilipendia, nega direitos, exclui e, até mesmo, mata as populações mais pobres. É destinado a este verdadeiro Valhacouto de Vis Malandrões o grito de Babaca!, para depois disto, retomar a reverência à Escumalha e toda a sua nobreza. À importância fundamental do “Chapa”, peça frágil e indefesa, no sistema de transporte do país; À importância da liderança feminina, À perspicácia e inteligência da linguagem popular; À beleza e singeleza poética residente nas pequenas ações e gestos; À sabedoria passada oralmente de geração a geração que orienta, com base no sofrimento real, caminhos melhores e harmoniosos.

A brasilidade que transborda das canções deste trabalho/gira de macumba é tudo aquilo que o Brasil oficial e colonial odeia. Por aqui passeiam sentidos, afetos, sonoridades, rasuras, contradições, naufrágios, ilhas fugidias, revoada de maracanãs e picadas de maribondos: saravá e samba.


 

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